segunda-feira, 25 de abril de 2011

Compra da rede de utilidades domésticas Camicado pela gaúcha Renner

Fernando Scheller e Cátia Luz, de O Estado de S.Paulo


SÃO PAULO - A compra da rede de utilidades domésticas Camicado pela gaúcha Renner, no início do mês, surpreendeu pela discrição das negociações e pela decisão da rede de vestuário de entrar em um novo segmento. A aquisição parece ter servido de estopim para aguçar o apetite de fundos de private equity e de grandes empresas pelas redes de médio porte - sobretudo as regionais - com forte potencial de expansão nos próximos anos.

O varejo sobe posições na lista de prioridades de investidores à medida que o consumo das famílias se torna cada vez mais importante na economia brasileira. Em 2010, a demanda interna respondeu por 60% do Produto Interno Bruto. E, mesmo partindo de uma base forte, cresceu 10,3%, acima dos 7,5% do PIB como um todo.

A estabilidade econômica - auxiliada pela renda e pelo crédito mais robustos - ampliou a oferta de produtos que o consumidor pode comprar. E a consolidação do varejo nacional ao longo do tempo reflete essa evolução do consumo: o setor de supermercados e hipermercados é um dos mais consolidados, com forte presença de gigantes internacionais, como Carrefour e Walmart. O de bens duráveis, como eletrônicos e eletrodomésticos, também já tem concentração similar a de países desenvolvidos. O mercado de confecções, apesar de ainda altamente pulverizado, já viu o forte crescimento de redes como Renner, Riachuelo e Marisa nos últimos anos. Agora, ainda de olho nos segmentos tradicionais, grandes varejistas e investidores se preparam para ocupar territórios praticamente inexplorados.

Tome-se o caso do setor de cama, mesa e banho. Apesar do recente negócio com a Camicado e da compra da MMartan pela Coteminas, em 2009, uma das maiores redes desse mercado ainda é independente: a paulista Zelo. Com 42 lojas e faturamento de R$ 320 milhões por ano, a empresa ainda não se rendeu ao "canto da sereia" de fundos de investimento e de concorrentes. Apesar de já ter conversado com pelo menos uma dezena de interessados, o sócio-diretor Mauro Razuk - que divide o capital da empresa com quatro irmãos - conta que as propostas foram insuficientes para concretizar negociações formais.

A baiana Le Biscuit, rede de 15 lojas que vende de material escolar a brinquedos, também não avançou nas conversas. Mas o contato com investidores já causou mudanças na empresa, que decidiu buscar profissionais de mercado para os cargos de diretoria e contratar a Ernst Young para auditar suas contas.

Fundada há 43 anos, a rede experimentou uma forte expansão nos últimos cinco anos, pegando carona no aumento do poder de compra do nordestino. Álvaro Sant’Anna, presidente da rede, diz que o importante é acompanhar as mudanças nas aspirações do consumidor. "Hoje, sou uma loja para a classe C, mas com produtos de classe B. Quero me antecipar ao cliente", afirma.

À medida que o consumidor quer comprar mais e melhor, abre-se um variado cardápio de oportunidades para os investidores. Para Daniel Sterenberg, do fundo Carlyle, está claro que o consumo de "indulgências" ganha força e abre o leque de investimentos no varejo. "A compra da (operadora de turismo) CVC foi orientada por essa tese."

Atrás de um sócio. Outra rede de força regional, a mato-grossense Lojas Avenida chegou a 71 lojas nas regiões Norte e Centro-Oeste. Em 2011, quer faturar R$ 350 milhões. Para crescer, a rede de confecções, sapatos e cama, mesa e banho busca ativamente um sócio. Contratou banco de investimento e escritório de advocacia para atrair a atenção de um grande fundo de private equity e financiar sua ambição: ter, até 2015, 170 lojas no País e chegar a São Paulo e ao Rio.

Além da relação cada vez mais estreita com os fundos de participação, as redes de médio porte também se aproximam das gigantes do varejo, dispostas a pagar por uma possibilidade de expansão. Para Eduardo Seixas, sócio-diretor da consultoria Alvarez & Marsal, as aquisições vêm para ajudar na solução de dois problemas das grandes redes: o preço salgado e a oferta restrita de imóveis no País. "Para quem tem 130, 150 lojas, fica difícil achar pontos adequados em quantidade suficiente. Por isso, faz sentido crescer diversificando, com uma nova marca."

segunda-feira, 18 de abril de 2011

10 dicas para administrar melhor seu negócio

“A sobrevivência das pequenas empresas depende da sua capacidade de competir no mercado. Ao identificar suas principais necessidades, a empresa consegue adotar um sistema que aprimore sua gestão, aumente sua competitividade e proporcione mais chances de sucesso”, destaca o diretor executivo da FNQ, Ricardo Correa.

Confira a seguir 10 dicas do executivo para administrar melhor seu negócio, aumentando suas chances de sucesso

1. Faça um planejamento estratégico

Estabeleça estratégias para alcançar os objetivos da empresa, levando em conta informações relativas a clientes, mercados, fornecedores, colaboradores, sua capacidade de prestar serviços, produzir e vender. “Isso permite posicionar a organização de forma competitiva e garantir a sua continuidade”, garante Correa. Não basta fica só no planejamento. O próximo passo é criar planos de ação, definindo responsáveis, prazos e recursos necessários para a execução de atividades que visam atingir as principais metas e estratégias.

2. Promova melhorias contínuas

Inovar nos produtos, serviços, processos e métodos de gestão é um passo fundamental para garantir o crescimento do negócio. Ouça as contribuições de colaboradores e busque informações no mercado – as fontes podem ser outras empresas, concorrentes, universidades, centros de pesquisa e associações, entre outras. “A implantação de um programa permanente de melhoria e busca pela excelência contribui para o aumento da competitividade da empresa”, ressalta Correa.

3. Controle o desempenho

A criação de indicadores e metas que permitam controlar as principais atividades e analisar o desempenho do negócio é essencial para garantir uma boa gestão. “Reuniões regulares com os dirigentes da organização são fundamentais para mensurar os resultados obtidos e tomar medidas corretivas, quando necessário”, aponta o diretor da FNQ. Os indicadores e metas devem contemplar as principais áreas da empresa, entre elas finanças, produção, vendas, fornecedores, clientes, colaboradores e questões ambientais.

4. Não descuide das finanças

Fique de olho no fluxo de caixa e tenha sempre um plano orçamentário para, no mínimo, um ano. Correa ressalta que essa é “uma boa estratégia para assegurar a disponibilidade de recursos para a compra de materiais e serviços, o pagamento de funcionários e despesas, além do investimento em equipamentos para comercialização, prestação de serviços, produção e entrega”.

5. Organize as informações

Informações necessárias para a execução das atividades da empresa, análise e condução dos negócios devem ser organizadas em um sistema padronizado, que inclua ferramentas e tecnologias eficazes para atender as necessidades dos colaboradores. “A empresa deve compartilhar as informações a fim de permitir a execução adequada das funções. Quando registradas e documentadas, essas informações possibilitam a continuidade das atividades em caso de substituição de profissionais”, recomenda Correa.


6. Fique de olho na concorrência

Obtenha regularmente informações comparativas de outras empresas do mesmo segmento. “Essa prática é funcional para estimular as organizações a adotarem novas práticas e métodos de melhoria dos serviços, produtos e processos”, explica o diretor da FNQ.


7. Ouça os clientes

Organizar a carteira de clientes, agrupando-os por perfis similares, permite ao empreendedor identificar melhor suas necessidades e formatar serviços e produtos mais adequados para atendê-los. “Considerando as diferenças de cada cliente, é possível divulgar e oferecer produtos e serviços no canal mais adequado para atingi-los e despertar o interesse”, explica Correa. Promover avaliações periódicas de satisfação e criar canais adequados para ouvir as reclamações e sugestões também é importante. “É a melhor forma de identificar oportunidades de melhoria”, diz o especialista.


8. Gerencie os colaboradores

Defina claramente as funções e responsabilidades dos colaboradores, deixando claro a participação de cada um para o sucesso do negócio. Também é importante oferecer capacitação aos colaboradores, criando planos de treinamento. “A organização deve ajudar a desenvolver as habilidades e conhecimentos dos colaboradores para exercer as atividades diárias”, afirma.


9. Promova a qualidade de vida

Adote ações que garantam o bem-estar e a satisfação dos colaboradores, oferecendo benefícios adicionais aos exigidos por lei, como confraternizações e áreas de lazer. “Criar um ambiente mais participativo e agradável é essencial para proporcionar motivação para a realização do trabalho”, diz Correa.

10. Invista em responsabilidade social e ambiental

“Mais do que nunca, é importante estar atento ao consumo consciente, com o uso controlado de água, energia elétrica e papel, bem como o descarte correto de sobras de produção, lixo, lâmpadas fluorescentes, cartuchos de impressora e embalagens”, afirma Correa. Prestar atenção aos danos que as atividades e instalações da empresa causam ao meio ambiente é essencial. Promova também ações e projeto sociais, conscientizando e envolvendo os colaboradores. “Dessa forma, é possível contribuir para o desenvolvimento sustentado da organização e do país”, destaca o executivo.
Fonte: http://exame.abril.com.br/pme/noticias/10-dicas-para-administrar-melhor-seu-negocio

terça-feira, 5 de abril de 2011

O que muda para o consumidor com o cadastro positivo

Medida provisória que deve ser votada no Congresso nas próximas semanas vai reduzir juros e aumentar o acesso das classes C e D ao crédito

São Paulo - O cadastro positivo vai beneficiar todos os bons pagadores, que poderão tomar empréstimos com juros mais baixos. Mas a principal mudança será percebida pelos consumidores das classes C e D. Essas pessoas passarão a ter acesso a linhas de financiamento que hoje não estão a sua disposição em bancos e varejistas. A opinião é de Elias Sfeir, presidente do bureau de crédito Equifax no Brasil
A medida provisória 518, que cria o cadastro positivo, foi assinada pelo então presidente Lula no final de dezembro e deve ser apreciada em plenário pela Câmara nas próximas semanas antes de seguir para o Senado. O texto tramita em regime de urgência e já tem mais de 70 emendas. Os deputados ainda negociam com o relator Leonardo Quintão (PMDB-MG) possíveis mudanças na MP.
O texto não estabelece como será o repasse para os bureaux de crédito (como Equifax, Serasa e SCPC) de informações sobre o histórico de pagamento de clientes de bancos, varejistas e concessionárias de serviços públicos. Diz apenas que os bancos não poderão limitar nem dificultar a concessão das informações.
Para Sfeir, da Equifax, é importante que o Congresso inclua no texto a obrigatoriedade de que as empresas repassem as informações de graça. "Essas informações pertencem aos clientes, e não às empresas", afirma. "Se houver cobrança, vai encarecer o custo do relatório elaborado pelo bureau e inviabilizar as consultas em caso de empréstimos de baixo valor." Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
EXAME.com - Qual será o efeito do cadastro positivo sobre o crédito?
Elias Sfeir – Esse projeto vai aumentar a concessão de empréstimos porque os bancos terão mais segurança para avaliar para quem vão liberar financiamentos. Existe um estudo que mostra que, se não houvesse o cadastro positivo nos Estados Unidos, haveria uma diminuição de 11,4% no número de empréstimos concedidos. Por aí dá para ter uma ideia da importância da aprovação dessa medida provisória.
EXAME.com – Nos EUA, existe muito mais concorrência entre os bancos. Não foi isso que fez os juros caírem lá para patamares hoje impensáveis no Brasil?
Sfeir – Acho que aqui também existe alguma concorrência entre os grandes bancos. O cadastro positivo vai melhorar isso. O objetivo do projeto é reduzir o spread bancário e os juros cobrados dos clientes.
EXAME.com – A taxa básica de juros caiu pela metade durante o governo Lula, mas os bancos continuam a cobrar mais de 200% ao ano em modalidades de financiamento como o cartão de crédito. Por que o consumidor vai acreditar que o ganho dos bancos com o cadastro positivo será repassado?
Sfeir – Eu não tenho como afirmar como vão se comportar os juros bancários nos próximos anos, mas acredito que haverá aumento da concorrência.
EXAME.com – Então o que realmente muda para o cidadão?
Sfeir - O grande mérito dessa ferramenta será a disseminação do crédito entre as classes C e D, menos favorecidas. Hoje a maioria dessas pessoas não tem acesso a crédito mesmo que pague todas suas contas em dia. A medida provisória enviada ao Congresso pelo ex-presidente Lula permite que os bancos e os varejistas possam consultar o histórico de pagamento de contas de água, energia ou telefonia fixa antes de dar crédito a alguém. Essas informações vão ser usadas tanto para a avaliação da capacidade de pagamento de uma pessoa quanto para que o banco possa reduzir perdas com empréstimos ruins
EXAME.com – Quem não tem um histórico bom de pagamentos não poderá pagar ainda mais por empréstimos?

Sfeir – Essas pessoas já pagam muito hoje em dia e não acho que haverá grandes mudanças. Os juros são altos para maus pagadores porque os cadastros negativos já mostram as contas inadimplentes dos últimos anos. O cadastro positivo serve para o contrário, para provar que alguém é bom pagador.
EXAME.com – Associações de defesa do consumidor afirmam que quem não tem o hábito de se endividar pode não ter acesso a juros mais baixos justamente por isso. Alguém que nunca toma crédito não pode provar que é um bom pagador. Não é uma distorção do cadastro positivo?
Sfeir – Não vejo problema. Essas pessoas serão avaliadas pela regularidade com que pagam as faturas de serviços como energia e telefone. Se estiver tudo direitinho, eles terão acesso a crédito.
EXAME.com – A partir do momento em que o texto do cadastro positivo seja aprovado no Congresso e sancionado pela presidente Dilma, quanto tempo levará para que a ferramenta comece a ser utilizada?
Sfeir – Depende de como será aprovado o projeto, mas acho que será bem rápido. A Equifax, a Boa Vista (SCPC) e a Serasa são os bureaux de crédito que acumulam dados sobre o histórico de pagamento dos brasileiros. Acredito que em breve essas três empresas estarão oferecendo também o cadastro positivo. Todas são empresas sérias com responsabilidade civil sobre os dados divulgados e que mantém o sigilo dessas informações.
EXAME.com – A medida provisória que foi enviada pelo Executivo ao Congresso é boa?
Sfeir – Minha principal preocupação é em relação ao compartilhamento das informações. Acho que o projeto deveria estabelecer que os bancos, os varejistas e as concessionárias de serviços públicos devem informar os bureaux de crédito sobre as operações realizadas por seus clientes. Esse serviço deve ser colocado à disposição de todos os bureaux e não pode ser cobrado. Do jeito que o projeto está, eu não sei se o banco não vai querer cobrar para fazer isso. Se houver cobrança, vai encarecer o custo do relatório elaborado pelo bureau e inviabilizar as consultas em caso de empréstimos de baixo valor.
EXAME.com – Hoje os bancos e os varejistas não avisam o bureau quando alguém deixa de pagar uma conta?
Sfeir – Sim, eles nos avisam para que a gente envie uma carta ao cliente e o alerte que o não-pagamento vai implicar em sua inclusão na lista de maus pagadores. Mas eu não sei se o banco vai querer compartilhar as informações para a constituição de um cadastro positivo. Vale lembrar que essas informações pertencem aos clientes, e não às empresas. Se o consumidor der sinal verde, a informação precisa ser compartilhada. O que falta é deixar isso explícito na medida provisória.
EXAME.com – Como funciona isso em outros países?
Sfeir – Nos Estados Unidos, existe um órgão responsável por compartilhar essas informações. O que defendo é um modelo igual ao deles, de livre acesso dos bureaux às informações. Isso leva a mais competição.